Todas as pessoas têm mau hálito?
Se considerássemos o hálito desagradável ao acordar, praticamente 100% da população seria portadora de mau hálito, também chamada de halitose. Por isso, o hálito da manhã é considerado fisiológico. Ele acontece devido à leve hipoglicemia, à redução do fluxo salivar durante o sono e ao aumento da flora bacteriana. Quando esses micro-organismos atuam sobre restos epiteliais descamados da mucosa bucal e sobre proteínas da própria saliva, geram componentes de cheiro desagradável. Após a higiene dos dentes (com fio dental e escova), da língua (com limpador lingual) e após a primeira refeição (café da manhã), a halitose matinal deve desaparecer. Caso isso não aconteça, pode-se considerar que o indivíduo tem mau hálito e que este precisa ser investigado e tratado.
É possível que eu tenha mau hálito e não saiba disso?
Sim. As pessoas que têm um mau hálito constante, por fadiga olfatória, não percebem seu próprio hálito. Somente as pessoas que têm períodos de halitose e períodos de normalidade conseguem percebê-lo.
Como posso saber se tenho ou não mau hálito?
A maneira mais simples de identificá-lo é pedir a um familiar ou a um amigo de confiança que faça essa avaliação por você. Caso você identifique o problema ou caso você se sinta constrangido a pedir a alguém que o avalie, pode procurar um dentista para que este possa ajudá-lo no diagnóstico e no tratamento da halitose. Atualmente, e cada vez mais, existem dentistas interessados no assunto, e muitos deles até já dispõem de um aparelho para medir e avaliar seu potencial de halitose.
Então, dá pra medir o hálito?
Sim, atualmente existe à disposição dos profissionais um aparelho que é capaz de medir compostos sulfurados voláteis e que serve para orientar quanto à gravidade da halitose e quanto à melhora e à cura durante o tratamento. Também é útil para demonstrar claramente para certos pacientes que eles não possuem nenhum cheiro desagradável na boca, quando este é o caso.
Certos pacientes halitofóbicos ficam muito apreensivos, com medo de terem halitose e desconhecerem o fato.
Qual a causa do mau hálito?
É muito bom que se diga que os casos de halitose não podem ser explicados por um único mecanismo. Existem casos de halitose tanto por razões fisiológicas (que requerem apenas orientação) como por razões patológicas (que requerem tratamento); por razões locais (feridas cirúrgicas, cárie, doença periodontal etc.) ou sistêmicas (diabetes, uremia, prisão de ventre etc.).
Por isso, pode-se concluir que todas as possíveis causas devem ser investigadas e que o tratamento será direcionado de acordo com a causa identificada. No entanto, 96% ou mais dos casos de halitose se devem à presença de saburra lingual e, assim, devem ser tratados.
O que é saburra?
Saburra é um material viscoso e esbranquiçado ou amarelado, que adere ao dorso da língua em maior proporção na região do terço posterior. A saburra equivale a uma placa bacteriana lingual, em que os principais micro-organismos presentes produzem componentes de cheiro desagradável no final do seu metabolismo.
Se a saburra é formada por microrganismos, o mau hálito é contagioso?
Não. A saburra somente se forma em pessoas com predisposição à sua formação. Por isso, é muito comum observar casais em que apenas um dos parceiros apresenta hálito muito desagradável, a ponto de incomodar o outro.
O que predispõe à formação de saburra?
A causa primária da formação de saburra é a leve redução do fluxo salivar, com a presença de uma saliva muito mais rica em mucina (“gosmenta”) e que facilita a aderência de micro-organismos e de restos epiteliais e alimentares sobre o dorso da língua. É bom que se diga que existem vários graus de redução do fluxo salivar. A medida do fluxo salivar (sialometria) deve ser feita por um profissional habilitado para isso. Também é importante a avaliação das causas da redução do fluxo salivar para que se possa decidir sobre o tratamento. Uma causa bastante comum é o “stress” constante. Existem medicamentos (por exemplo, alguns antidepressivos) que também podem provocar a xerostomia (redução do fluxo salivar).
Como se livrar da saburra e do mau hálito?
Existem pelo menos 3 abordagens:
– Remoção mecânica da saburra por meio de limpadores linguais. Existem alguns modelos de limpadores linguais hoje disponíveis no mercado.
– Manutenção da superfície lingual o mais oxigenada possível, com o uso de oxidantes. Existem vários oxidantes no mercado que podem ser úteis para esse fim; desde a água oxigenada (usada diluída), o Amosan (Oral B) ou o Peroxyl (Colgate).
– Identificação da causa da redução do fluxo salivar para que se possa estabelecer o tratamento adequado.
As duas primeiras abordagens garantem um hálito agradável; porém, exigem a manutenção desses cuidados. A terceira abordagem, uma vez realizada com sucesso, garante resultados mais duradouros, sem a necessidade de manutenção do uso de produtos para o controle de saburra, porque esse procedimento corresponde à eliminação da causa primária.
Como posso melhorar meu mau hálito que acontece só de vez em quando?
Quando o mau hálito não é crônico, mas apenas esporádico, deve-se observar uma higiene bucal e lingual adequadas, estimular a salivação de maneira fisiológica (isto é, sem o uso de medicamentos) com balas sem açúcar, gomas de mascar, gotas de suco de limão com um pouco de sal, ou, mais eficientemente, com uma ameixa japonesa condimentada, conhecida como “umebochi”. Deve-se ainda cuidar da alimentação (evitar o excesso de proteína, gordura, condimentos e alimentos de cheiro carregado) e manter uma frequência de ingestão de água e de alimento (que contenha algum carboidrato) a cada 3 ou 4 horas.
Então, o uso de goma de mascar melhora o hálito?
Sim. Em primeiro lugar, age como um mascarador do hálito e, em segundo, o que é mais importante, aumenta a salivação.
Tenho gastrite. Acho que é por isso que tenho mau hálito. O mau hálito pode vir do estômago?
Não. É muito comum os pacientes pensarem dessa forma incorreta. Também é muito comum pacientes com gastrite terem mau hálito. Vamos explicar melhor esse mecanismo: à medida que a saburra se forma, ela passa a ser um meio propício também à instalação e à proliferação de micro-organismos patogênicos cuja porta de entrada é a boca. São exemplos os micro-organismos causadores de doenças pulmonares, gastrintestinais e até mesmo de amigdalites e de doenças periodontais. No caso da relação halitose versus gastrite, a redução do fluxo salivar propicia a formação de saburra, a qual permite que o Helicobacter pilory se instale no dorso lingual, prolifere e aumente em número, podendo chegar ao estômago e desencadear a gastrite. Na verdade, a manutenção do fluxo salivar em condições normais não evita apenas a formação de saburra e mau hálito, mas também previne a possibilidade de o paciente se tornar predisposto à gastrite, pneumonia, amigdalite, periodontite etc.
Já consultei vários profissionais sem ter a solução para o meu problema. Halitose tem cura?
Claro que tem cura. Às vezes, atingir a cura demanda um pouco mais de tempo, mas sempre existe a possibilidade de controle. A maior parte das pessoas crê que qualquer dentista está amplamente informado a respeito de mau hálito, o que nem sempre é verdade. O mesmo pode-se dizer em relação aos médicos. O atendimento nessa área é diferente do atendimento odontológico de rotina. Atualmente, muitos estão bastante interessados e estão investindo em conhecimentos sobre o assunto. Assim, se o seu dentista não se achar em condições de lhe oferecer um excelente atendimento, com certeza saberá encaminhá-lo para um colega que tenha feito esse tipo de treinamento.